domingo, 7 de junho de 2009

É do Drummond

Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.Tempo de absoluta depuração.Tempo em que não se diz mais: meu amor.Porque o amor resultou inútil.E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho.E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.Ficaste sozinho, a luz apagou-se,mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.És todo certeza, já não sabes sofrer.E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?Teus ombros suportam o mundoe ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifíciosprovam apenas que a vida prosseguee nem todos se libertaram ainda.Alguns, achando bárbaro o espetáculo,prefeririam (os delicados) morrer.Chegou um tempo em que não adianta morrer.Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.A vida apenas, sem mistificação.



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isso foi nos anos 40.
imaginem então, o caos em que estamos ?
o monstro de milhões de cabeças que estamos enfrentando cegamente?

o mundo está com câncer.
dói é em mim.
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Um comentário:

  1. O mundo tá com câncer, mas ainda restam muitas células sadias e boas, cheias de amor. E elas tem que se espalhar como um câncer bom.

    Foco na solução, sem olhar pros lados. É a minha sugestão. Pelo menos pro mundo à nossa volta, por onde passaamos. Quem sabe se espalhe.

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