domingo, 31 de janeiro de 2010

Vá embora, vá ser artista!

Um dia eu ouvi uma amiga me dizer que a avó dela disse exatamente essa frase : Vá embora, vá ser artista.
Ao ouvir esse trecho da história, pensei com os meus botões : Eu vou.
E fui.
To aqui, fora de casa, fora dos meus amigos nordestinos, fora dos meus amores nordestinos, começando a sentir a pesada brisa da cidade grande.

Eu só não sabia que iria doer tanto, essa decisão de ser artista.
É porque chega uma hora que tudo começa a doer. O coração é o mais atingido, logo depois vem a mente, e preciso me cuidar pra não ser metástase.
Porque vai doendo aqui, alí, acolá, e quando resolve não parar mais de doer a gente pode, sei lá, inventar dor em lugar que nem dá pra sentir nada. Tipo no dente, na parte branca, sem a carne. Só ele.
A gente começa a querer chorar lágrimas arrependidas e começa a querer soltar risadas falsas em ambientes desconhecidos.
E de repente, a ilusão acaba. A gente pode até pensar que esse lance de ir embora e ser artista é fácil, mas depois os olhos abrem e o coração, como o primeiro canto a doer, nos alerta de que tem chumbo grosso pela frente.
É preciso ter garra e é preciso ser forte.
Caso contrário, game over.

Tem sido difícil desde que entrei no avião e pensei : Já era.

Já era, já era.
A nova era que vem me espera, tenho que ficar e suportar.

Ei, distância, não me leve a sério. Eu só quero ser artista.
Tenha dó de mim, saudade?!

domingo, 24 de janeiro de 2010

Existe.

Acabou de me passar que sei escrever bem quando estou triste.
E que gosto de escrever quando estou bem triste.
E no momento, não tenho vontade alguma de escrever - embora o esteja fazendo.

É porque exatamente agora, qualquer um vai me olhar e dizer : Felicidade existe.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sunshine.

Hoje me veio um brilho aos olhos e nem fazia sol.
Era meio que de madrugada. Amanhecendo. Nem escuro demais, nem claro.

Estava só analisando a vida, do jeito que ela é.
A vida assim, meio bela, embora crua, curta.
A vida é pequena, e digo isso para esses que estão a vendo de maneira grande...
Esquecendo dos mínimos detalhes do que é viver.

O sol não estava diretamente em minha retina, mas eu havia enxergado a claridade logo cedo, quando acordei.
A claridade estava em minha mente, que não parava de pensar.
Juntei as mãos cruzando meus dedos e deixando os dois polegares soltos, e fiquei fazendo movimento circulares com eles dois.
Parecia que eu via o globo nos meus dedos.
A Terra em movimento assim, dando voltas e voltas sem parar, e chegando sempre onde o meu pensamento me levava.
Do jeito exato que eu queria.

O dia foi amanhecendo e a minha cara de sono continuava, pude ver no espelho encostado na parede do meu quarto.
Tenho essa mania de me olhar antes e depois de dormir. Gosto de mim, assim, olhando os meus cabelos e passando um pente neles antes de dormir.
Gosto de me olhar com a pele macia, de quem acabou de acordar, e com os lábios parecendo de plástico quando acordo.

E a vida começou a existir no hoje. Eu comecei a notar que a cidade começou a fazer barulho de novo, e era o dia de hoje que já estava passando a existir, de fato.
Fui até a varanda do meu apartamento, olhei a avenida em frente... passavam algumas pessoas fazendo suas caminhadas matinais.
Os pássaros já estavam alegres e o sol estava mostrando a sua beleza.

Olhei o sol, e pensei no que ele vê por aí.
Os absurdos do dia.
AS alegrias.

O sol daqui é o mesmo de lá.

Ao meio-dia eu notei que a cidade pegava fogo. Calor do sol, calor humano.
Gente pra lá e pra cá.
Horários.

O tempo inteiro.
A mente de ninguém estava parada.
Um loucura.

O sol cansou e deu boa noite a todo mundo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Soletrando.

Não dou mais sorrisos a quem não merece ver meus dentes. Não boto fé em nada que me faça ser descrente. Não queimo a mão por nada que me faça sentir vontade de incendiar. Eu abri os olhos. Fechei o coração com poucas coisas dentro. Eu quero ver o ôco. Confiança, brother, é só pra quem me dá segurança! Eu quero é ver a paz. E se não for desse jeito, nem me satisfaz. Não forço ninguém a estar comigo. Ou está ou nunca esteve. Quem me conhece de fato, sabe, carrego no peito sinceridade, carinho e respeito. Falo a verdade, sempre. Faz parte de mim ser assim. Lutando na guerra fria de corações aquecidos, vou até o fim. Tudo que plantei até aqui eu colhi. Não me plante coisa ruim... Saber soletrar é uma arte : primeiro vem o a, depois um m, um i, a última letra do alfabeto, a primeira letra do alfabeto, um d e um e. Misturo amizade e amores, tudo num pote só. É muito semelhante, nada muito aterrorizante. Ou confia ou não confia. Ou soletra, ou pega a reta.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Até breve.

A vida é mais frágil do que a gente pensa.
Hoje demos adeus a mais um brother.
Da mesma idade que eu. Vinte anos.
Muito pouco.
Quase nada de vida.

Quando a gente se dá conta, já aconteceu.
O ar parou de entrar nos pulmões. O coração parou de bater.
Morreu.

Quando a gente se dá conta, a gente nota que a vida é um fiasco.
A vida chega a ser humilhante.
Você dá tudo que tem, e morre.
Você ri, e morre logo em seguida.
De repente - não mais que de repente - você acabou de beijar o amor da sua vida, e morre.
Você deu tchau aos seus amigos numa mesa de bar, e como piada da vida, era pra você ter dado adeus.

A gente nunca sabe até quando. Nem como. Nem onde.
A gente não sabe é de nada dessa vida, embora vivamos.

Como diria Bial, a morte por si só é uma piada pronta.
Completamente sem graça.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Luzes.

Anjos passam por mim diariamente.
Eles fazem um papel sensacional em minha vida : Proteger e trazer paz.

Digo anjos, porque talvez essa possa ser a melhor maneira de transmitir ao caro leitor o modo carinhoso que uso quando me refiro a cada ser que passa por mim e me faz sentir um perfume doce.
Pessoas que me soltam sorrisos pela manhã e me desejam um bom dia.
Outras que ao me verem atravessar a rua, param seus carros por vontade de me ver chegar até o outro lado sem nenhum ferimento.
Algumas pessoas me abraçam. Outras me beijam a testa.
Outras me pedem a hora do dia, e eu dou. Mas pelo menos, elas falam comigo.

Às vezes, quando paro no sinal, chegam uns anjinhos e me pedem por ajuda, e mesmo que eu não tenha nada pra dar, lhes dou um sorriso com remorso por não poder ajudar, e recebo em troca algumas palavras sutis. Recebo em troca elogios.
Outro dia, eu estava no sinal da 13 de Julho, próximo ao supermercado, e de repente, um menino moreno, mal vestido, parou ao lado do meu vidro que estava fechado e pediu com a mão alguns centavos. Minha bolsa estava no chão do carro, e o sinal estava próximo a abrir, e eu lhe disse com a mão que não tinha nada.
Ele sorriu e eu abaixei o vidro pra dizer a ele que na próxima vez que passasse por alí eu o ajudaria, e ele disse ' você é linda. ', antes mesmo que eu abrisse a minha boca numa tentativa de justificar o que lhe neguei.
E ele não esperou nada em troca, pondo em vista que logo que disse que eu era linda, ele virou as costas e eu gritei agradecendo o elogio, e ele virou e disse ' você é muito linda. não sabia?'... Chamei por ele, dizendo um ei - o sinal estava terminando de abrir, com o último pontinho vermelho, chegando no verde - e peguei a minha bolsa no chão, tirei uma graninha e disse ' Você merece. Não sabia?'.
Isso pode até soar como uma troca de favores, mas não foi.

Ele me fez bem, aquele menino de rua. Ele foi simples e sem más intenções.
Ele foi real, ao modo dele.
E eu prefiro a realidade.

Anjos passam por mim desde mil novecentos e oitenta e nove, quando abri meus olhos pra esse mundo.
Me iluminam com gestos, palavras e atitudes.
Me sorriem sem dentes e com dentes.
E pra mim, nada mais luminoso como um sorriso.

Alguns anjos passam despercebidos, me salvando de perigos que nem noto.
Outros, aparecem em minha vida e fazem uma reviravolta, bagunçando e organizando tudo de maneira diferente.

Chamo alguns de família, outros de amigos, alguns são até apenas conhecidos, e outros, bom, outros são completamente desconhecidos.

Existem anjos que estão comigo há muito tempo, outros que já estiveram e sumiram, como se a missão deles em minha vida já estivesse acabado.

Eu devo ser um anjo pra alguns também. Imagino que cada um de nós tem a chance dada desde o princípio para sermos bons com os outros.
Se bem soubéssemos, plantaríamos e semearíamos o bem, sem nem olharmos a quem.
E com certeza, como uma equação impossível de dar errada, colheríamos apenas coisas boas.

Existe uma luz dentro de cada um de nós, e só nós podemos administrar a intensidade dela.
O importante é cuidar pra que ela nunca queime ou seja apagada pelo mal alheio.

Devemos acreditar que somos anjos na vida de outras pessoas, para que possamos agir com sabedoria.
Que sejamos sábios para aceitar as coisas que não podemos modificar.
Que tenhamos coragem pra modificar as coisas que podemos.
E que saibamos diferenciar uma coisa da outra.

São pequenos atos que fazem uma boa alma.

Chegou o tempo de abrir os nossos olhos, coração e mente pra que tenhamos plena paz interior, e que saibamos amar uns aos outros de maneira simples, como o menino do sinal fez comigo.
É tempo de sorrir com os olhos. Amar com a alma, e viver com o coração.

Luz.
Seja um anjo na vida de alguém, e passe a ver os anjos que existem à sua volta.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Representando bem, a vida.

Alguém já deve ter escutado na vida que a burrice do malandro é achar que só ele é malandro.
Já escutei isso várias vezes...E sei bem o significado disso aí.

Olha, sinceramente, preciso dizer aos que se sentem malandrinhos na vida, que eu também sou malandra. E não nego a malandragem de vocês.
Sei bem do que digo, quando solto palavrinhas bobas, perdidas, como quem não quer nada.
E faço de conta que tá tudo bem.
Não gosto de disfarçar, mas faz parte do espetáculo teatral que chamamos de vida.
E se me perguntarem sobre a vida, vou dizer que sei viver.
E sei viver da melhor maneira pra mim, e busco que seja a melhor maneira pra quem me rodeia também.
Nem sempre eu sou rude com quem merece que eu seja rude.
Nem sempre sou doce com quem merece que eu seja doce.
E vou vivendo.
Porque a vida engana a gente, e ela consegue esconder em rostinhos bonitos coisas que nunca imaginamos.
Mas sinceramente, eu vivo.

Devo dizer, meus caros espectadores, que o drama, a aventura e a comédia fazem parte do show.
Esse é o meu show, e quero que assistam de perto, e quando acabar, espero que me aplaudam.
Porque tenho certeza de que mereço aplausos, de todos que me assistem.
Tenho certeza de que minhas máscaras - e devo dizer que Rotherdan concordaria plenamente com o que digo agora - são todas muito bem confeccionadas, e que sei usá-las muito bem nas devidas ocasiões.

Faço questão também de deixar claro aos queridos espectadores, que só faz parte desse show quem assim optar.

Posso ser nua e crua.
Mas posso me vestir por completo, deixando apenas os olhos de fora, arregalados, pra que eles enxerguem de maneira evidente quem merece o meu cru e o meu nu.

Usar máscaras não é o meu tipo de brincadeira preferida, mas quem quiser brincar, é só vacilar.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Caminhos diferentes.

Eu acabei de dar tchau a três pessoas importantes em minha vida. Duas delas umas das mais importantes. Minha irmã Ellen e minha sobrinha Ester.
Escrevo porque choro, no momento, e preciso muito desabafar.
Manaus é longe pra cacete, e quando digo isso é porque sei do que estou falando.
É melhor sair de Manaus e ir pra Miami, do que vir pro nordeste.
É mais perto.

O coração doeu muito, quando em meus braços pude sentir o peso da minha pequena estrelinha de dois anos que sempre me chamava de tia elika de um canto ao outro dessa casa.
Me chamava quando acordava e eu ainda estava dormindo, batendo à porta do meu quarto, às 6 da manhã, 'able tia elika', e eu com muito sono, abria e não conseguia fazer outra coisa a não ser beijar sem parar aquela pequenina linda.
E o coração doeu ainda mais quando tive que sentir o cheirinho de bebê dela pouco antes de ela ser tomada dos meus braços pelo pai, meu cunhado, que aparentava estar com o choro entalado na garganta. Mas é homem, e era ele quem estava levando todo mundo pra longe, afinal de contas. Não que fosse culpa dele. Enfim.

Deixei a minha sobrinha nos braços do pai, que por sinal, é um super pai - e torço pra que Deus o conserve assim.

Abracei a minha irmã, que chorava muito, e falei do meu amor por ela em seu ouvido.
Disse algumas coisas a mais, além do amor, como ' se cuida por lá.' e fiquei abraçando-a enquanto ela com voz de choro dizia sem parar ' eu vou te visitar em São Paulo'.
É. Eu sei que falei sobre nordeste no início do texto, mas é que daqui a poucos dias quem vai se despedir sou eu... Vou pra São Paulo, tentar a vida.
Chorei. Chorei muito enquanto a abraçava.

Paramos de nos abraçar e minha mãe falava sem parar algumas frases que a minha Esterzinha falava vez ou outra, como se doesse muito nela também - e com certeza doeu muito, ela é avó.
E dói mesmo. Dói muito.
E minha mãe até brincou, dizendo ' Deixem a minha pequena...'.
E rimos, meio amarelos, pra parecer que algo de engraçado estava acontecendo.

Abracei o meu cunhado, e disse ' Eu também te amo e preciso muito que cuide bem delas.'.
Ele, com aquele jeito de homem certo que sempre teve, só me disse ' Eu amo vocês.'.
Tenho certeza de que cuidará muito bem delas.
Ele nunca nos decepcionou.

Despedidas doem. A cada dia que se passa eu só tenho mais certeza disso.


Eu dei as costas por segundos e não resisti, voltei correndo pra dar mais um beijo na cabecinha da pequena estrelinha, que dormia em meio ao caos.
Dei o beijo, virei e quando olhei de novo estavam todos dentro do carro, mal podia vê-los mais...
Chorei encostada no muro do meu prédio e minha mãe me abraçou falando frases da Esterzinha, novamente. Foi quando notei que a partir de hoje, eu não a veria mais crescer. Talvez daqui uns tempos ela nem lembre mais da tia elika... Vai ser difícil conquistá-la da próxima vez que nos vermos.

E agora, estou escrevendo pra tentar fazer com que a dor diminua um pouco.
Mas dói.
Talvez amanhã essa dorzinha passe.

Só tenho certeza de uma coisa nesse momento : cada um de nós está no seu mundo, sofrendo com o coração apertado pela dor da despedida.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Falta muito pouco.

Hoje eu me tremi por inteiro, quando um amigo me olhou e disse: Vinte dias.
E eu estava rindo de uma situação anterior, e não me liguei no que ele havia dito, e ele repetiu: Vinte dias em Sergipe. Falta só isso pra você.

Eu parei de rir. Fiquei séria. Senti felicidade, senti saudade antes dela existir.
Senti necessidade, senti tudo.
Uma vontade absurda de adiantar e atrasar os ponteiros do relógio.
É que existe uma mistura imensa de sensações quanto à isso.

Minha voz travou e eu não consegui falar nenhuma palavra por alguns minutos, e fiquei olhando pra ele, fazendo aquela cara de 'é, falta pouco, fodeu.', e respirei fundo e consegui soltar 'é, falta pouco, muito pouco'.

Eu vou embora da minha cidade, carregando no peito a saudade. Carregando no peito todos os meus amores.
Levarei dentro de mim, como num potinho de segredos, cada detalhe de tudo que por aqui vi e senti.
Carregarei comigo cada sensação. Cada palavra de amor, cada gesto.
Vocês, meus amigos, minha família.

Tenho plena consciência de que faz parte. A lagarta deixa de ser lagarta quando cria asas. E quando cria asas, ela vira borboleta e vai voar.
Gente grande não tem asas, mas precisa sentir um pouco da sensação de voar.
Pra sentir a liberdade. Pra conhecer o mundo. Pra conhecer a si próprio. Pra construir futuro e concretizar sonhos.
Estou partindo porque agora sou gente grande, e tenho sonhos a serem concretizados.

Sei que vai doer, porque a saudade faz doer. Vou chorar, como já estou agora... E quando precisar das pessoas que estão longe, sei que as terei.
Porque tudo o que plantei, com certeza colherei.

Plantei a fé, o amor e a coragem.

Falta muito pouco, e a contagem agora é regressiva.
Mas, tudo bem, eu ainda sinto uma vontade maluca de atrasar os ponteiros do relógio.
Falta pouco, e também sinto vontade de adiantar esses ponteiros.

É uma loucura.