quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um passeio sobre os corações.

Caminhando na praia aquela madrugada pude ver corações desenhados, talvez tenham sido desenhados um bom tempo antes que eu os visse. Mas eles estavam alí, intactos. Bem desenhados. Dois corações.
Senti a água bater nos meus pés e tentei entender porque a água não os havia alcançado para apagá-los dalí. E me deliciei com cada toque que as ondas daquela imensidão de praia me fizeram sentir nos pés, nas pernas.
Enterrei os meus pés na areia, só pra brincar, e senti uma deliciosa sensação de que sob o solo existe um mundo quentinho, um mundo escuro, aconchegante.

Passei por cima dos corações de areia, com os meus pés molhados, joguei as minhas mãos para o céu e degustei a liberdade de estar pisando em dois corações ao mesmo tempo.

Caminhei sobre os corações, os senti nos peitos dos meus pés.

Um passeio com a cabeça leve. Sem peso algum na consciência por estar pisando em corações.
Uma euforia leve.Um aumento de leve na minha percepção de humor.
Fiquei feliz. Pensei rapidamente na quantidade de corações pelos quais eu já fiz caminhada. Foram muitos.
Pensei em quantos corações nunca sentiram o solado dos meus pés. São muitos.

Alguns corações já me serviram de hotel, me serviram de cama, de montanha-russa.
Alguns corações me servem até hoje de depósito. Eu tenho um depósito de corações.

O coração, responsável pela circulação do sangue em todo o corpo.
O vírus do amor. Bombeando e pressionando. Fazendo ser.
Artérias, veias, ventrículos e zonas.

Zonas perigosas. Zonas de amor. Zonas de nervosismo.
Amor nervoso.
Passeio por tudo isso.

Zonas de calmaria.
Extremidades.

Uma caminhada sobre os corações alheios, e meus.

domingo, 20 de dezembro de 2009

good trip

a loucura da calmaria, felicidade fácil, barata.
um fiasco. um pequeno fiasco.
as letras desorganizadas no meu alfabeto, as palavras trocadas e as pernas bambas.
alucinante.

o vento na cara na viagem.
a viagem inteira.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Saudade.

( Se for ler, indico que leia escutando essa música : http://www.youtube.com/watch?v=1FzVWlOKeLs&feature=fvst )

Todos nós sabemos que a palavra saudade só existe em português. Já escutamos várias vezes sobre isso, em aulas de português ou até mesmo em aulas de inglês, quando algum professor ou professora resolveu nos ensinar a falar 'estou com saudade disso/daquilo/de não sei quem ...'.
E daí vamos aprendendo com a vida mesmo - a maior e melhor professora do mundo - que saudade é dolorida. Que saudade pode ser boa, que pode ser feliz, que pode ser triste, que pode até fazer chorar, mas também pode fazer sorrir.

A saudade tem vários tons diferentes, como na música. Ela pode até desentoar, por vezes, destraída, nos fazendo perder o controle. Nos fazendo desacreditar no reencontro. Nos fazendo enxergar a vida da maneira real que ela é. E no fundo, sabemos que a vida nua e crua é um tanto dolorida. Tentamos fugir da realidade que machuca... E acabamos acreditando em nossas próprias mentiras, vez em quando, como uma válvula de escape pra aliviar todo o sofrimento que toma conta lentamente letalmente de todos os nossos sentidos. De todos os nossos ossos, nossos músculos e nervos. Fazendo chorar de dor, de amor e de saudade.
E sofrer no sentido real da palavra, sofrer de tanto querer.

Ausência é outra palavra que podemos usar pra explicar a falta. É que a saudade faz isso com a gente. Essa vontade de querer. Essa vontade de abraçar. De beijar. De apertar cada pequena parte do corpo ausente.A falta que alguém faz. Um lugar faz. Um cheiro, um toque.
A falta daquela música que só tocava naquela rádio.
A falta daquela melodia que só se podia escutar da maneira exatamente como ela era quando assoviada pelos lábios da pessoa ausente.
A falta daquela mesma história que sempre era contada na mesma data, tipo quando a gente faz aniversário e nossa mãe sempre faz questão de falar a que horas nascemos, e como foi a dor do parto, e o que os médicos falaram quando aparecemos pro mundo.
Aquele cheiro que tinha na primeira casa em que você morou.Na primeira cama em que você dormiu. O cheiro dos lençóis lavados com aquele amaciante que hoje já saiu do mercado.
Lembrança da primeira vez que você beijou na boca, da primeira vez que falou 'eu te amo' e de quando descobriu que nem sempre é amor.
Saudade pode doer e pode fazer bem.
Pode machucar e pode curar.

A nostalgia surge quando criamos completa noção de que o momento já não mais será vivido por nós outra vez. Que passou, passou...
E é por isso que de vez em quando a gente sente a dor. Geralmente sentimos isso por termos crescido.
De alguma maneira o sofrimento nos faz crescer, e sempre faz.
O pior da nostalgia é o fato de que quando entra em contato com sua causa, ela aumenta ao invés de diminuir.
A saudade não é assim. Queremos matar a saudade pra diminuir a dor. Pra aumentar o amor, pra estancar a ferida no peito.
Mas é tudo saudade. Sendo nostálgica ou só saudade. É tudo saudade.

E se crescemos com os sofrimentos, nos tornamos adultos consequentemente... E se tornar adulto é um problema. Estou vivendo isso agora.
Porque pra ser adulto é necessário sentir nostalgia. E todos os adultos sentem nostalgia.
É como quando nos lembramos do programa de televisão que mais gostávamos quando pequenos, e que hoje em dia não passa mais em nenhuma emissora. Aquele desenho animado com dublagem mal feita.
Como quando lembramos aquela fruta que tirávamos no pé. E o cheiro que ficava em nossas mãos depois de comê-la.

A saudade faz a gente derramar lágrimas. Faz a gente colocar pra fora do corpo a água que bebemos naquela época...
Ah!, os tempos passam, os absurdos aumentam e quando menos esperamos, cá estamos nós, envelhecidos, como aquela geladeira amarela que fazia sucesso entre as mães, na nossa infância.
Como aquela comida cheirosa que nos aguardava quando chegávamos da escola, meio dia.

Vamos perdendo as pessoas queridas, vamos entendendo a morte da maneira como ela deve ser entendida - ou não -, com a dor e a saudade.
Vamos carregando e acumulando em nosso peito a saudade de um, de outro, daquilo... E um dia, como se não houvesse mais saída dessa vida em que tentamos sobreviver, vamos chegar em casa, as sete e meia da noite, depois de um dia cansativo de trabalho, deitaremos em nossa cama e com a ajuda do silêncio que as quatro paredes nos farão ter, lembraremos sem parar das coisas maravilhosas que passamos. Da nossa juventude rebelde, do nosso primeiro amor, do nosso primeiro adeus, do segundo adeus e quem sabe lembraremos até do cheiro que a primavera de 1996 fez.
Lembraremos dos bailes de formatura, lembraremos dos porres alucinantes que tivemos, e lembraremos de quando fomos rejeitados por alguém a quem tanto amávamos.
Será torturante.
Lembraremos de nossos pais nos aconselhando a não fazer isso e aquilo, e lembraremos do quanto fomos ingratos algumas vezes.
Iremos lembrar das traições de amigos. Iremos lembrar das amizades sinceras e das amizades que já se foram. Alguns terão ido embora dessa vida, e deixarão conosco as boas recordações.
E cá estaremos nós, envelhecidos como os fuscas.
E cá estaremos nós, cheios de saudade daquela tia por parte de pai que nos dava tudo o que queríamos.
Aquele avô que sempre nos dizia o quanto éramos especiais e bonitos.
E já seremos pais, já sentiremos a dor de uma desobediência de um filho.
Estaremos lutando para que nossos filhos não sofram. Estaremos lutando para que nossos filhos tenham boas lembranças no futuro deles.

Sem sombra de dúvidas, a saudade é o que mais me faz chorar nessa vida.
E sei que me tornei adulta quando notei que parte da minha saudade era também nostalgia.
Sem saída, me sinto encurralada num beco.

Provavelmente daqui uns anos, estarei sofrendo com a ida de alguém que amo muito. É que não tem pra onde correr, o destino de todos nós é o mesmo.
Infelizmente - ou não, mais uma vez - somos meros mortais.
O ciclo continua. Tudo isso deixando amargar o peito um dia ou outro.
E o importante mesmo é que tenhamos feito a nossa parte nesse mundo que, por enquanto, ainda é nosso.

Saudade aperta mesmo o peito.

E viver é assim : Como se estivéssemos no finalzinho daquele doce maravilhoso... Guardando sempre o melhor pro final. E vamos comendo aos poucos, deliciando-nos do sabor dos ingredientes, apreciando as mãos de quem o fez e sem sabermos se ele acabará daqui a dois minutos, ou daqui a duas horas. Depende da mordida. Depende da fome.

Digo que recordar é viver e faz muito sentido agora.

Nós, envelhecidos, abraçados a ninguém, com o peito cheio de saudade.
Sorrindo e chorando, com lapsos de memória. Com memórias completas. Com tudo desordenado no cérebro.



Querendo voltar atrás o tempo que já passou, passou.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

ID.

Preocupada, analisando os fatos, olhando tudo ao meu redor. Parei,
pus a mão esquerda na cabeça e a direita na cintura por uns segundos e logo depois estavam as duas mãos na cabeça.
O moço que morava alí mesmo, na rua, me olhou, se aproximou e perguntou se eu havia perdido alguma coisa. Se estava tudo bem.
Eu tive vontade de chorar na hora, mas só disse que havia perdido sim minha identidade.
Ele ficou preocupado, até olhou pra baixo tentando encontrar alguma coisa parecida com a identidade de alguém. Disse que não estava enxergando nada. Que não devia estar por alí.
E eu respondi que eu também achava que não estava por alí, mas que não fazia idéia de onde poderia estar. Comentei que estava tudo escuro e difícil de enxergar.
Ele concordou.

Estava mesmo,tudo escuro, dentro e fora.

Deserto.

A cor do amor é vermelha.
A cor do ódio também.
O amor precisa de tempo e pensamentos. O ódio também.
O amor exige vísceras, pulso, alma, coração, assim como o ódio.
Os dois andam juntos.
A indiferença não. Ela não tem cor. Ela não exige nada, nem corpo nem alma.
A indiferença maltrata. Amarga.

Vinho do amor.

Eu preciso de um romance. Que me faça subir pelas paredes e que me faça descer de lá correndo pra abraçar forte e nunca mais largar.
Eu preciso de um romance novo, desses que fazem a gente perder o ar. Que fazem a gente enxergar cor onde não tem.
Preciso de um amor, sei lá, mais um, talvez. Sou cheia dessa coisa toda. Mas to precisando de aventura. Uma aventura mesmo, dessas que fazem a gente ficar apaixonado pela vida mais do que já é.
Dessas coisas malucas que são vividas e que depois arrancam da gente como se a gente não merecesse. Aí a gente chora muito. Aí a gente pede pra sair da vida. Aí a gente abraça os travesseiros espalhados pela cama.
Abraça qualquer coisa que aparece na nossa frente, aí a gente vai atrás de um novo romance, de novo. E tudo novo de novo. E blablabla sem fim.
E a gente vai ficando nessa, nessa desilusão.

Uau! Eu comecei escrevendo bem isso aqui, comecei falando de coisas lindas e já desfiz o paraíso em pouco tempo.
É assim. Eu começo a escrever e sonhar coisas boas e quando menos espero eu me pego escrevendo decepção.
Me desculpem os românticos, perdi pedaços do coração por aí...to tentando resgatar, mas é preciso calma.

Como eu ia dizendo, estou esperando ansiosamente por um novo romance. Mas que seja romance mesmo, que dê pra escrever pelo menos uns vinte textos sobre ele.
Que me dê inspiração de verdade. Que me faça sentir vontade de conhecer a fundo.
Que me faça abrir os olhos pra outras coisas boas dessa vida.
Porque eu to na mesmice, eu to na chatice e quero sair.

Já mudei meu guarda-roupa. Já vou comprar perfumes novos, pra esquecer o cheiro desse tempo que já passou.

Me desculpem os românticos, mas vou pedir um copo do vinho do amor... já esqueci desse sabor e quero me embreagar.

um pedido.

não me empurra não, que eu já to na beirada.

Efusivamente palavras.

Senti uma vontade louca de escrever até os dedos sangrarem.
Pra demonstrar o tamanho da angustia que me tomou conta exatamente agora, quando lembrei de você.
Tive vontade assim, de sair correndo e tirando minhas roupas pelas ruas, até chegar em sua casa e dizer algo como 'pode encostar, sempre foi tudo seu.', mas aí eu não seria correta. Aliás, eu seria má.
Mas é que quando eu lembro de você me sinto tremer e me sinto arrepiar, como se um vento bem frio passasse sobre a minha pele, avisando aos meus poros que a droga está no ar. Como se eu fosse viver intensamente por dois minutos e depois morrer.
Como se eu fosse te ter a vida inteira e viver só mais dois minutos.
Lembro do seu toque, do seu abraço e de cada palavra e gíria que saía de dentro da sua boca que eu beijava sempre que me dava vontade. Vontade louca de você.
Dos beijos doces e dos quentes. Das mãos bobas e das mãos juntas. Cada coisa detalhadamente observada, gravada, feito tatuagem na pele. Pra nunca mais sair.

Lembro de todas as vezes que você passou as mãos com cheiro de cigarro pelos meus cabelos e me dizia que eram lindos, eles, os nossos cabelos.
Porque acabei me dando tanto à você, que tudo que era meu passou a ser seu também.
Ai, como dói de lembrar que agora eu não sou de ninguém.
Chego até a pensar que esse lance de ser de todo mundo é um jeito de fugir da realidade que dói mesmo. Dilacera com o meu coração. Sufoca a minha alma na parede.
Nas paredes do meu quarto, coitadas, que me escutam chorar sempre que penso em você. E nos seus cabelos que hoje em dia não tem mais nada de 'meu'.

Pensei em nascer de novo, mas teria que morrer pra isso. E viver é bom, sabe? Mas era muito bom mesmo quando eu tinha você pra respirar junto com a minha respiração.
Os corpos colados, a mesma cama, a mesma direção. Enxergávamos juntos a vida.
Se chovesse a gente se molhava junto e se fizesse seca a gente matava a nossa própria sede. Um com o outro. Um pelo outro. Os dois juntos, numa mistura intensa de tudo, dos corpos, da alma e do coração.
Tinha facilidade grande de sentir os cheiros quando estava com você. Até hoje quando sinto o seu cheiro por aí o coração gela. Pensando ele, pobre iludido, que irá te encontrar logo à frente.
Aquele perfume que eu te dei, muitos caras usam.

Minha alucinação. Minha perfeição. Minha confusão. Meu amor. Meu ódio. Meu tudo. Meu nada. Minha paz. Meu caos. Minha calmaria. Meu frenesi. Minha construção da alma, a destruição da mesma. Meu céu e meu inferno.
De dó a dó. Dor.
Muita dor, sem você, com você, sem você.

Foi-se embora e a saudade no peito inda mora.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Eu ordeno.

Hoje eu descobri que quem escolhe tudo sou eu.
Eu acabo escolhendo com quem vou conversar, com quem vou caminhar,
quem vai me escutar e quem eu vou escutar. E quem vai estar comigo enquanto perco tempo e ganho vida, enquanto ganho vida e perco tempo.
Nessa novela inteira eu acabei percebendo que as minhas escolhas são tão importantes como o fato de seguir em frente.
Keep walking.

Escolho atentamente o que vou beber, o que vou fumar, o que vou tomar, o que vou comer e como vou comer.
Quem vou comer.
Quem vou beber.

E faço a seleção, naturalmente, das coisas que carrego comigo e das coisas que ficam out da minha área.
Das dores de amor, dos amores, do feeling todo de ir embora e não precisar dar tchau.
De ficar e se despedir ainda assim.

E a minha sede é saciada, com cada escolha.
A minha fome é alimentada a cada não que escuto.
Mato rápido a minha fome. Mato tudo rápido demais dentro de mim.
Choro dores de outro amor pra um novo amor.
Amo como nunca amei antes, vários outros amores.

E engano.

Eu crio caminhos.
Qualquer passo, qualquer movimento. Tudo depende de mim.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Perdendo as estribeiras.

Mentalizando sem parar uma cena de verdade, uma história antiga.
Forte, bem forte.
Descontrolando todo mundo ao seu redor por conta do seu descontrole.

Pondo as coisas no lugar e desorganizando tudo por dentro.
Uma bagunça.
Forte, muito forte, cada vez mais forte.
Animal.

Tremendo, respirando fundo, ofegante.

Lembrando do pouco que restou. Sugando em cada segundo de pensamento o máximo que
pode e que consegue.
Sugando tudo, até a última gota.

Amor venenoso.
Gostoso. Querendo nem saber até o amanhecer.

Mentalizando, desejando. Forte.
Profundo e forte.

Passando dos limites. Gritando de desejo realizado.
Gritando e deliciando-se no eco.
O vazio.

Perdendo as estribeiras no vazio das veias, dos sinais.
Tudo branco.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

afraid

me sinto como se tivesse medo de escuro e a vida estivesse de luz apagada.
presa no meu próprio medo.
fechada nos pensamentos absurdos.
com medo da vida, da morte. de tudo.

alguém acende a luz por aí e me faz sorrir. to precisando muito.